quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Minhas impressões pessoais

Eu, com a minha mania de falar sempre sobre quase tudo, vou me aventurar as falar sobre as minhas impressões gerais do curso.
Acredito que investir em formação continuada é uma obrigação do professor. Não existe professor verdadeiramente comprometido que tenha estagnado o seu conhecimento em algum momento. Por essa razão decidi entrar no curso.
Confesso que houve momentos em que desanimei por diversas razões: cansaço, stress, fiquei adoentada algumas vezes também. Às vezes, me sentia um pouco entendiada, pois vários dos assuntos tratados ainda estavam "frescos" na minha memória e eu acabava os chando repetitivos, pois tem pouco tempo que eu me formei.
No entanto, se eu fico sem estudar me sinto meio "enferrujada". Além dos atrativos do curso, como os textos e atividades propostos, sempre dinâmicos e interessantes; as discussões sempre muito produtivas e participativas, sem falar nas pessoas como um todo. Não posso deixar de falar da Keyla, a tutora mais doce e acessível que eu já conheci.
Disso tudo, fica a certeza de que eu cresci muito nesse ano e o curso e os seus componentes ajudaram muito nesse processo.

Obrigada por tudo e um abraço a todos!

Cordel

Tem assunto mais gostoso do que esse?

O cordel, certamente, é uma das expressões literárias mais ricas e genuínas (mesmo tendo origem em outros países) do Brasil, porque retrata o imaginário brasileiro, a realidade do sertão e do nordestino, é bem humorado, é sentimental, divertido, é vivo!

No encontro do dia 20/11, produzimos um cordel. Não, não foi só o poema! Desenhamos, fizemos a xilogravura, nos superamos! Foi uma experiência diferente, nunca havia feito algo assim.
Nos dividimos em dois grupos, sendo que o meu era composto por mim, Régia e Jujú. Esta última colega nos contou a história de uma de suas primas, uma senhora solteira que sonhava em se casar, mas nunca achou o homem certo. Essa história nos serviu de inspiração para criarmos o nosso singelo e humilde cordel, que eu espero que seja do seu agrado.

Ai meu Deus, quem diria
Que algum dia me casaria
Não encontrei um príncipe encantado
Mas sim um burro empacado
Agora não sei o que faço
Para me livrar desse abestado

Se acaso alguém souber
De alguém que se interesse
Por pessoa sem grande beleza
Com sorriso desdentado
Cabelo mal ajambrado
Um olho furado e nenhuma riqueza

Dinheiro é o que mais lhe falta
Boa educação também não tem
Nunca vi homem tão feio
E sem caráter como ninguém

Dizem que o amor é cego
Hoje reconheço e não nego
Como pude gamar
Em alguém que nada me dá

Quem quiser, leve esse traste consigo
Pois eu já não me importo e nem ligo
Mas adianto que não aceito devolução
É melhor ficar sozinha
Do que puxando um burro pela mão!


PS: Tenho que agradecer imensamente a Jujú, pois o talento dela para as artes plásticas fez toda a diferença na nossa xilogravura!!!!

Desmundo

Desmundo foi um filme perturbador para mim. Assisti-o tempo inteiro com as mãos na cabeça por causa de suas cenas fortes. Mas é um filme excelente, com uma produção riquíssima. O melhor de tudo é que ele é uma obra que acrescenta, tanto do ponto de vista histórico quanto do lingüístico.
Transcrevo abaixo a minha análise sobre ele. Não sei se consegui abranger nela tudo o que vi, mas busquei relacionar o filme às nossas discussões em sala e às minhas opiniões sobre os fenômenos da Mudança e Variação Lingüísticas.


Desmundo: Uma análise histórico-lingüística

Baseado no romance de Ana Miranda, Desmundo é um filme perturbador, pois nos fala de um Brasil desconhecido para muitos, com histórias capazes de impressionar a qualquer um. O filme se passa no século XVI, onde vários índios já haviam sido escravizados e catequizados. Por meio da história da protagonista Oribela, uma das órfãs mandadas para o Brasil para que se casassem com os colonos, o filme fala sobre um período conturbado da História do Brasil, no qual pode-se perceber claramente a existência de camadas sociais já bastante distintas, o preconceito contra índios e mulheres, a mistura de povos interessados na riqueza do território brasileiro e os abusos de poder numa terra sem lei e esquecida pela corte portuguesa. Para demonstrar tantos aspectos, o roteiro do filme conta com uma riqueza de detalhes que vai além da natureza histórica e alcança uma excelente reprodução lingüística.

No período histórico que o filme reproduz, o português falado no Brasil era extremamente heterogêneo, devido à mistura de povos que aqui residiam. No entanto, havia uma comunicação efetiva, porém, ela era notadamente marcada por variações próprias de cada uma das línguas maternas faladas pelos colonos, bem como de suas regiões de origem e escolaridade.

É importante ressaltar que grande parte do povo que residia no Brasil daquela época era marginalizado, pois, durante muito tempo, os povos europeus só enviaram para o Brasil os seus cidadãos indesejados. Portanto, a variedade do português que aqui se falava, além de ter todas as variações anteriormente citadas, já era estigmatizado pelos portugueses, afinal, não se tratava da variedade de prestígio.

Assim, nota-se que os fenômenos de mudança e variação lingüística existem desde sempre, afinal, a língua é muito mais do que um meio de comunicação, é uma forma de expressão cultural que acompanha as necessidades e as diferenças de cada povo sem, no entanto, perder a sua riqueza. Se a sociedade muda, como esperar que a sua língua permaneça a mesma?

Contudo, nunca existiu um consenso acerca desse questionamento. Mesmo hoje, que já existem centenas de estudos sobre os fenômenos lingüísticos, ainda há quem defenda o uso de uma linguagem minoritária e excludente, que perpetua um preconceito sem fundamento e marca ainda mais as desigualdades sociais historicamente herdadas.

Admitir o uso de uma língua imutável ou impor o uso de uma única variedade é jogar fora anos de evolução, conhecimento e cultura. Chega a ser contraditório pensar que estudiosos, pessoas que se dizem letradas e cultas concordem com uma idéia tão ultrapassada e diversas vezes refutada. Entretanto, não é difícil entender, pois este é o velho princípio da dominação, mostrando mais uma de suas facetas.

É preciso analisar a língua sob o prisma da comunicação e do entendimento, pois estes são princípios comuns a todas as variedades. Isso não significa que se deve abolir o estudo e o uso da norma culta; o que se deve fazer é aprender qual variedade deve ser usada em determinado momento e, sobretudo, aprender a respeitar as diferenças nas suas mais variadas formas, inclusive lingüísticas.

Além disso, também é necessário rever a prática pedagógica das escolas e professores, para que os alunos não vejam a Língua Portuguesa como algo distante e inalcançável. Pelo contrário, a Língua Portuguesa dos ricos e letrados é a mesma dos mais pobres e com menor escolaridade. O que existe, na verdade, são diferenças as quais não se pode atribuir maior ou menor valor. Somente assim será possível construir uma cultura mais próxima da igualdade, de forma que as pessoas não sejam julgadas por seus “erros de fala e escrita” ou por qualquer outra forma preconceituosa ou depreciativa.

Alfabetização e Letramento

No dia 18/09, discutimos a diferença entre o que é ser alfabetizado e o que é ser letrado. Iniciamos essa discussão com a leitura compartilhada do texto "Poesia Matemática", de Millôr Fernandes, transcrito abaixo:

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.


A partir da leitura desse texto, vimos que letramento vai muito além da alfabetização, pois está ligado à interpretação, ao entendimento, à cultura que a leitura e a escrita trazem consigo.
No caso do texto acima, para atingir o seu entendimento, é necessário mais do que a decodificação do código lingüístico; é preciso ter um conhecimento prévio sobre matemática e isso, infelizmente, não é possível só com a alfabetização.
Isso nos leva à reflexão sobre quais temas abordar com nossos alunos. Não podemos selecionar textos, por melhores que eles sejam (como o texto acima, por exemplo), que eles ainda não tenham o conhecimento e a maturidade necessárias para compreender.
É tudo uma questão de bom senso!

Hora de trabalhar

Nas aulas dos dias 21 e 28/08, fizemos correções de redações e analisamos os Traços Graduais e Descontínuos presentes nelas. Para quem é da área de Língua Portuguesa, foi uma chance de rever sua prática e revisar alguns conteúdos. Para quem não é, certamente agregou um conhecimento importante à prática docente.
No dia 21 fizemos a dinâmica dos barbantes que nos ajudou na construção de nosso memorial. Recebemos um pedaço de barbante cada um e deveríamos fazer nós nele. Cada nó representa um fato de nossas vidas que nos marcou enquanto pessoas e profissionais.
Não foi um dia engraçado como os outros, mas me acrescentou muitas coisas. Até porque, nesse dia não falei nada, apenas ouvi.

Variação Lingüística

O assunto Variação Lingüística, certamente, é o mais discutido em nossos encontros. Como contemplar esse fenômeno de maneira coerente e livre de preconceitos em meio ao ensino da norma culta carregada de mitos?
Impossível responder a essa pergunta sem nos remeter a Marcos Bagno, Professor Doutor da UnB. Bagno, com a linguagem simples e acessível de suas obras, explica a variação lingüística e a justifica por meio de um estudo diacrônico da Língua Portuguesa. Não só Bagno, mas também Stella Maris Bortoni-Ricardo, por meio de seu estudo dos Traços Graduais e Descontínuos.
Voltando ao encontro, no dia 07/08, tivemos duas leituras compartilhadas: "Nóis Mudemo", de Fidêncio Braga e "O orador da turma", uma história em quadrinhos do personagem Chico Bento.
No primeiro texto, vimos o mal que o preconceito lingüístico pode causar. A história fala sobre um menino que desistiu de estudar porque disse "Nóis mudemo" e foi corrigido pela professora diante da turma, tornando-se alvo de gozações. Por ter abandonado a escola, não teve grandes oportunidades e viveu uma vida de privações. Já o segundo texto nos mostra o outro lado: Chico Bento foi escolhido para ser o orador da turma num discurso que faria ao prefeito. A professora lhe deu o discurso pronto e mandou que ele o decorasse. Entretanto, o discurso foi feito numa linguagem rebuscada para a idade de Chico Bento e ele não conseguia decorá-lo. Além disso, o discurso só tecia elogios ao prefeito, enquanto a escola caía aos pedaços.
No dia da visita do prefeito, Chico não conseguiu se lembrar do discurso e resolveu improvisar;acabou falando sobre todos os problemas da escola, mas de seu jeito. Quando a professora de Chico já ameaçava desmaiar de tanta vergonha, o prefeito o elogiou por sua sinceridade e por seu talento ao falar para o público.
Essas histórias mostram que a maneira como um professor enxerga o fenômeno da variação é determinante para o crescimento do aluno. Na primeira história, o menino cresceu julgando-se "burro", achando que não sabia falar. Já a segunda nos mostra que o objetivo principal da linguagem é a comunicação, independentemente da variedade usada. Mesmo utilizando uma linguagem considerada "errada", Chico se fez entender claramente, não só para o prefeito, mas para todos o que o ouviam. Assim, ao contrário do protagonista da primeira história, Chico sentiu-se capaz e mostrou que a verdadeira inteligência independe de discursos rebuscados, palavras bonitas e conhecimento sistematizado.
Utilizamos esses textos e nossas reflexões para rever os Metaplasmos e os Traços Graduais e Descontínuos. Gostei bastante, esses assuntos sempre me interessaram muito. até porque, eles explicam cientificamente aquilo que as pessoas acreditam ser "burrice".
Senti o peso da minha responsabilidade nesse dia. Certamente, eu não quero ser a professora do primeiro texto... Acho que agora disponho de mais meios para fazer isso, já que tenho o
conhecimento teórico e vivo a prática todos os dias. Mas, como eu disse num outro post, não acredito em professores que páram no tempo. Por isso, estou aqui...

Aguarde cenas dos próximos capítulos!

Célia entrevista

Num encontro do qual eu não me recordo o dia, falávamos sobre os diferentes discursos que se pode ter para um mesmo assunto. Me recordei bastante das minhas aulas de Introdução à Análise do Discurso...
A atividade que realizamos foi muito engraçada! Representamos uma entrevista sobre educação com pessoas de segmentos distintos: Um policial, um professor, um cidadão comum e o governador. Eu fui escolhida por livre e espontânea pressão para representar a repórter, Clarice foi a cinegrafista, Cláudia foi o policial, Keyla foi a professora e Régia foi o governador. Eu os questionava sobre qual é a importância da educação para o desenvolvimento social. Cada entrevistado respondeu de maneira completamente diferente, defendendo suas idéias e opiniões, tentando convencer o telespectador de que seu argumento era o melhor.
Assim, vimos o quanto a linguagem que usamos em nosso discurso pode ser tendenciosa e manipuladora, e o quanto ela é carregada por nossas opiniões pessoais, mesmo quando nosso discurso deveria ser imparcial.

Texto Concreto


O assunto Texto nunca saiu das nossas discussões, porém, no início do curso ele foi o nosso maior enfoque. No dia 15/05 fizemos uma atividade que, para mim, foi uma das mais criativas. A Keyla pediu que nos dividíssemos em dois grupos e entregou para cada grupo um bloco de folhas com um substantivo escrito em cada uma delas. Nossa missão era formar um texto concreto no chão, criar uma estória para contar à turma e representá-la de alguma forma.
No grupo que eu participei juntamente com Clarice e Perpétua, formamos um coração, pois nossos substantivos estavam ligados a sentimentos. Criamos uma estória de um amor que terminou mal, mas superado com amadurecimento. Nossa representação foi feita por meio de expressões faciais e uso de entonações diferentes na leitura das palavras.
O outro grupo fez um trabalho muito interessante: eles formaram uma interrogação e criaram uma estória voltada para a reflexão e o senso crítico.
A fotografia acima é do coração que formamos. Não está muito boa, mas dá para ter uma idéia de como foi realizada a atividade.

Até mais!!!

Poemas Enlatados

Decidi postar aqui as atividades e discussões que mais gostei durante o andamento do curso. A minha primeira eleita é "Poemas Enlatados", realizada no dia 17/04 . A Keyla, nossa tutora, trouxe diversos poemas dentro de uma lata e pediu que cada cursista retirasse um poema. Todos nós lemos os poemas retirados e cada um falou qual foi a sua interpretação sobre eles.
Como grande dos poemas falavam de amor e romance e a nossa turma é predominantemente feminina (só existe um pobre homem, o Eduardo), a discussão ganhou proporções gigantescas. Discordamos das interpretações umas das outras, contamos histórias, falamos das "dores de cotovelo", mas alcançamos o objetivo do encontro: perceber que a interpretação de um mesmo texto varia conforme as experiências de cada um, sua visão de mundo, sua personalidade. Não existe um só significado para nada.
Eu adorei primeiramente pelas poesias - que eu adoro -, por nossas discussões que sempre são muito produtivas e também pelo lado cômico. Simplesmente, não tem como não rir!
Transcrevo abaixo o poema que eu li, é lindo!

Amor é síntese

Por favor não me analise

Não fique procurando cada ponto fraco meu

Se ninguém resiste a uma análise profunda

Quanto mais eu

Ciumento, exigente, inseguro, carente

Todo cheio de marcas que a vida deixou

Vejo em cada grito de exigência

Um pedido de carência, um pedido de amor

Amor é síntese

É uma integração de dados

Não há que tirar nem pôr

Não me corte em fatias

Ninguém consegue abraçar um pedaço

Me envolva todo em seus braços

E eu serei perfeito amor.

Mário Quintana

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Memorial

Como está especificado no perfil, sou uma professora de Língua Portuguesa de 22 anos. Graduei-me em Letras-Português do Brasil como Segunda Língua (PBSL), pela Universidade de Brasília no ano de 2007. Mas, antes de falar de minha atuação profissional, tentarei falar um pouco sobre a minha vida e como cheguei até aqui.
Nasci e me criei na cidade de Ceilândia, onde vivi até os 19 anos. Filha caçula de uma casal de nordestinos, cresci vendo os estudos como a ferramenta que me abriria todas as portas para a realização dos meus sonhos. Entrei na escola aos seis anos e com o incentivo da Tia Simone (minha professora da 1ª série) e da minha família, logo descobri a minha paixão pela leitura. Virei frequentadora assídua da biblioteca!!!
Assim, acabei sendo eleita, ainda na 1ª série, a melhor aluna da escola. Por essa razão, fui convidada a participar de um evento em comemoração ao encerramento do ano letivo, na Regional de Ceilândia. Mas, para isso, eu teria de ler 10 livros e contar cada uma de suas histórias para o público do evento. Senti um medo tão grande, quase desisti de ir. Mas com a ajuda de minha mãe, consegui cumprir a missão, e hoje, recordo-me desse fato como uma das lembranças mais doces da minha infância e como o meu primeiro "desafio" como leitora.
Prosseguindo a minha vida estudantil, descobri uma outra paixão: a escrita. Não sei precisar quando isso aconteceu, mas sei que foi por uma necessidade inata de expressar o que eu imaginava e sentia. Também porque sempre admirei os que conseguiam fazer isso por meio de livros, textos, músicas, imagens, o que for. Claro que nunca tive grandes pretensões com a minha "obra", pelo contrário, até hoje tenho vergonha de mostrar o que escrevo a outras pessoas. Mas escrever é uma necessidade do meu espírito, por mais amador que ele seja.
Com a aproximação da adolescência, descobri minha terceira e grande paixão: os romances, tanto em prosa, quanto em poesia. Devorei inúmeros livros românticos, principalmente quando, aos treze anos, ingressei no Ensino Médio. Porém, durante o seu decurso, descobri que não gostava muito do estudo sistematizado da literatura; gosto de literatura para mim, porque me entretém, me diverte, me faz imaginar o rosto dos personagens, os cenários, o decorrer das cenas. É uma viagem sem sair do lugar!
Ainda no Ensino Médio, pude perceber com mais maturidade o valor das palavras, melhor dizendo, o poder que elas têm de enfrentar, manipular, dissimular, prover... Então, concluí que a minha ligação com a Linguagem e a Língua Portuguesa iam além do que eu supunha. Decidi prestar vestibular para Letras. Escolhi o PBSL por influência da minha irmã, que já fazia o curso nessa época. Não passei na primeira tentativa, mas na segunda pude ver o meu nome no jornal. Fiquei tão orgulhosa de mim, me senti tão feliz que sorria e chorava ao mesmo tempo. Iniciava-se ali uma fase maravilhosa e muito trabalhosa da minha vida.
A minha graduação foi um pouco conturbada. Comecei a trabalhar no segundo semestre, e tive que driblar o tempo para dar conta de tudo. Mas isso me fez perceber o valor do trabalho e o quanto é bom conseguir algo por mérito próprio. Suei, sorri, tremi, chorei diversas vezes durante a minha vida acadêmica, mas cresci muito! Conviver com tantos universos, tantas pessoas, tantas diferenças e semelhanças me fez enxergar a vida sob diversos prismas.
A graduação chegou ao fim e veio o trabalho, de fato. Confesso que nunca sonhei em ser professora, apesar de crer que tenho talento para a profissão. Na verdade, sempre gostei de tantas coisas que não sei dizer ao certo qual é o meu sonho. Porém, procuro realizar o meu trabalho com o carinho, a dedicação e a responsabilidade que ele merece.
No dia-a-dia com os meus alunos, tento passar a eles os valores que eu tive durante a minha vida, para que eles também possam sonhar, imaginar e crescer. Acredito que a leitura e o senso crítico são fortes aliados nesse processo e procuro desenvolver neles o gosto por ambos, mas, infelizmente, vejo que há um grande desinteresse e isso me frusta enquanto pessoa e profissional. Contudo, faço a minha parte e espero que um dia meus alunos tenham histórias lidas e criadas por eles para contar. Sejam elas verídicas ou fruto de alguma imaginação.