O assunto Variação Lingüística, certamente, é o mais discutido em nossos encontros. Como contemplar esse fenômeno de maneira coerente e livre de preconceitos em meio ao ensino da norma culta carregada de mitos?
Impossível responder a essa pergunta sem nos remeter a Marcos Bagno, Professor Doutor da UnB. Bagno, com a linguagem simples e acessível de suas obras, explica a variação lingüística e a justifica por meio de um estudo diacrônico da Língua Portuguesa. Não só Bagno, mas também Stella Maris Bortoni-Ricardo, por meio de seu estudo dos Traços Graduais e Descontínuos.
Voltando ao encontro, no dia 07/08, tivemos duas leituras compartilhadas: "Nóis Mudemo", de Fidêncio Braga e "O orador da turma", uma história em quadrinhos do personagem Chico Bento.
No primeiro texto, vimos o mal que o preconceito lingüístico pode causar. A história fala sobre um menino que desistiu de estudar porque disse "Nóis mudemo" e foi corrigido pela professora diante da turma, tornando-se alvo de gozações. Por ter abandonado a escola, não teve grandes oportunidades e viveu uma vida de privações. Já o segundo texto nos mostra o outro lado: Chico Bento foi escolhido para ser o orador da turma num discurso que faria ao prefeito. A professora lhe deu o discurso pronto e mandou que ele o decorasse. Entretanto, o discurso foi feito numa linguagem rebuscada para a idade de Chico Bento e ele não conseguia decorá-lo. Além disso, o discurso só tecia elogios ao prefeito, enquanto a escola caía aos pedaços.
No dia da visita do prefeito, Chico não conseguiu se lembrar do discurso e resolveu improvisar;acabou falando sobre todos os problemas da escola, mas de seu jeito. Quando a professora de Chico já ameaçava desmaiar de tanta vergonha, o prefeito o elogiou por sua sinceridade e por seu talento ao falar para o público.
Essas histórias mostram que a maneira como um professor enxerga o fenômeno da variação é determinante para o crescimento do aluno. Na primeira história, o menino cresceu julgando-se "burro", achando que não sabia falar. Já a segunda nos mostra que o objetivo principal da linguagem é a comunicação, independentemente da variedade usada. Mesmo utilizando uma linguagem considerada "errada", Chico se fez entender claramente, não só para o prefeito, mas para todos o que o ouviam. Assim, ao contrário do protagonista da primeira história, Chico sentiu-se capaz e mostrou que a verdadeira inteligência independe de discursos rebuscados, palavras bonitas e conhecimento sistematizado.
Utilizamos esses textos e nossas reflexões para rever os Metaplasmos e os Traços Graduais e Descontínuos. Gostei bastante, esses assuntos sempre me interessaram muito. até porque, eles explicam cientificamente aquilo que as pessoas acreditam ser "burrice".
Senti o peso da minha responsabilidade nesse dia. Certamente, eu não quero ser a professora do primeiro texto... Acho que agora disponho de mais meios para fazer isso, já que tenho o
conhecimento teórico e vivo a prática todos os dias. Mas, como eu disse num outro post, não acredito em professores que páram no tempo. Por isso, estou aqui...
Aguarde cenas dos próximos capítulos!
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
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